11 de fev. de 2011

Malu de Bicicleta é romance de fácil identificação


Crítica por: Louis Vidovix
Em entrevista à Playboy na época do lançamento de seu livro “Malu de Bicicleta”, Marcelo Rubens Paiva comentou que, depois de atingir a marca dos 40 anos – idade em que, segundo ele, os autores celebrados conceberam suas obras mais superlativas -, sentia-se preparado para adentrar numa fase de fortalecimento criativo. “Malu” serviria como o pontapé inicial.
Transformado em filme pelo cineasta Flávio Ramos Tambellini (“Bufo & Spallanzani”), “Malu de Bicicleta” funciona a priori como um veículo para seus atores, Marcelo Serrado e Fernanda de Freitas. Ambos podem não ter grandes oportunidades na televisão (ela tem o agravante de ser parecida com Deborah Secco), mas exercitaram o talento no teatro por tempo suficiente e agora, munidos de bons personagens no cinema, têm a chance ideal de brilhar.
Ele, um paulista de férias no Rio, é atropelado por Malu, uma carioca desinibida que pedala diariamente pelo Calçadão. O encontro acidental se transforma em conversa, em chamegos e finalmente em sexo. A assimilação de que os dois necessitam da presença um do outro e a eventual mudança da moça para São Paulo para ficar junto dele vêm em ritmo acelerado. Mas, para Luiz, que nunca cultivara sequer um namoro, passar direto ao casamento sem uma experiência intermediária não será tarefa fácil.
Seu amor por Malu é incondicional e indiscutível, mas vem atrelado a um turbilhão de sentimentos conflitantes que ele desconhece. Como nunca estivera num relacionamento, não desenvolvera um filtro interior para admoestar o ciúme e a possessividade. Logo, suas suspeitas e paranoias levarão o casal a um ponto crítico.
O amadurecimento do protagonista não é estranho a Rubens Paiva: seu livro mais famoso, “Feliz Ano Velho”, era uma reflexão bem humorada sobre as sequelas irremediáveis de sua adolescência inconsequente, sendo a mais grave delas o acidente que o deixou paraplégico. Essa fatalidade, ao invés de destruí-lo, ajudou-o a se construir.
Para Luiz, o processo de humanização também virá às duras penas: ele é uma cria dos centros urbanos, aonde os adultos crescem a passos de cágado, demoram a perder os hábitos juvenis e chegam aos 40 com a mesma mentalidade dos 20. Recuperar o tempo perdido é difícil e doloroso, mas, a custo de alguns sacrifícios pessoais, perfeitamente possível.
A situação não é inédita, embora seja tão familiar e ambientada num cenário tão próximo do público – em especial, aos que vivem se deslocando pelo eixo Rio-SP – que acaba por conquistar. Afinal, quem nunca se afligiu pelas mesmas angústias? Quem jamais renunciou a aspectos de si mesmo em pró de uma relação?
O filme, num entendimento glorioso da essência do autor, é daqueles que merece ser visto e, em seguida, vivido.
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